Conexões Significativas para uma Vida Mais Feliz




"Senta que lá vem a história”

Lila acabou de receber uma notícia ruim no trabalho, vinda de seu colega João. Ela geralmente tem dificuldades com João. Eles não apenas têm personalidades e interesses muito diferentes, mas também diferem em seus estilos de liderança. Mesmo que a Lila tente encontrar maneiras de se conectar com João, seus esforços são inúteis. Ultimamente, Lila decidiu parar de forçar uma relação pessoal com John e mantê-la estritamente profissional, mas mesmo com essa abordagem, Lila não se sente confortável com ele.

Lila deixa a reunião virtual com João lutando para manter a compostura. Ela parece agitada e estressada. Ela precisa participar de outra ligação com seu outro colega, Pedro, com quem Lila tem um bom relacionamento de confiança no trabalho. Pedro percebe sua expressão preocupada e rapidamente pergunta:

“Por que você está tão vermelha quanto sua blusa? O que aconteceu?”

"Acabei de ter uma interação horrível com João. Como se não bastasse ter que ouvir que ele conseguiu permissão para contratar 4 pessoas enquanto minha equipe está sobrecarregada há meses, ele continua com seus comportamentos passivo-agressivos que me deixam louca", desabafa Lila, sentindo-se grata por Pedro estar ali para ouvi-la.

“Você acha que se fosse a Bianca quem tivesse conseguido permissão para contratar essas 4 pessoas você se sentiria da mesma forma?” Ao trocar o personagem principal do problema, João, por Bianca, que não apenas é mulher, mas também uma amiga próxima do trabalho de Lila, Pedro tenta colocar as coisas em perspectiva.

“Eu não sei. Talvez eu não me sentiria tão chateada. O João me frustra tanto com a constante falta de comunicação entre nós, minhas tentativas fracassadas de me conectar com ele e conhecê-lo melhor, e a forma como ele me faz sentir incompetente com sua superioridade. De qualquer forma, sei que preciso trabalhar em mim primeiro, aceitar as coisas como elas são e encontrar maneiras de ficar bem com quem ele é."

Com um sorriso reconfortante, Pedro ouve atentamente, oferecendo palavras de empatia e incentivo a Lila. Lila não pode deixar de sentir um senso de alívio a envolver, grata pela bondade de Pedro em seu momento de necessidade. É tão bom ter esse senso de conexão e entendimento quando ela conversa com Pedro. Suas interações sempre servem como um lembrete de que, às vezes, o maior presente que podemos dar aos outros é o da inteligência relacional - a habilidade de empatizar, se conectar e elevar aqueles ao nosso redor, mesmo nos menores momentos.

Vamos falar sobre isso:

A qualidade dos nossos relacionamentos determina a qualidade de nossa vida. Você já parou para pensar quantas pessoas cruzam nossas vidas todos os dias? Conhecemos pessoas no trabalho, na academia, durante as atividades das crianças, amigos de amigos, familiares. Interagimos com pessoas todos os dias, virtualmente ou pessoalmente. Como escolhemos com quem construir relacionamentos? Podemos escolher ou, às vezes, o relacionamento é imposto a nós (como colegas de trabalho)? Para as pessoas com as quais já temos relacionamentos (colegas, amigos, familiares), qual é a qualidade dos seus relacionamentos? Você tem um “João” na sua vida? Esse tipo de relacionamento em que você PRECISA se dar bem com alguém, mesmo quando preferiria que não precisasse continuar esse relacionamento? E nessa situação, o que fazemos?

Construir e manter relacionamentos requer trabalho e dedicação. Ao entrarmos em um novo relacionamento, chegamos com muitas expectativas, como querer nos sentir ouvidas, apoiadas, amadas e realizadas. Quando essas expectativas não são atendidas, pode levar à decepção, raiva e desconforto.

As conexões humanas podem variar muito. Existem momentos em que conhecemos alguém e instantaneamente sentimos uma forte conexão. Interesses compartilhados e uma afinidade natural tornam a interação fácil e agradável. Por outro lado, alguns relacionamentos, como o de Lila com seu colega de trabalho João, são desafiadores de estabelecer e manter. Apesar dos esforços, a conexão parece difícil de alcançar e difícil de manter ao longo do tempo.

Para esses relacionamentos difíceis, mas necessários, gosto de usar uma fórmula simples: conectar e comunicar.

Conectar

Um princípio fundamental para promover conexões genuínas é entendermos a nós mesmas antes de nos envolvermos com o outro. A autoconsciência desempenha um papel crucial, pois nos ajuda a identificar nossos valores, preferências e limites. Ao nos conhecermos profundamente, nos tornamos mais capacitadas para entender e nos conectar com os outros de forma autêntica. No entanto, é essencial equilibrar nossas próprias necessidades e desejos com os dos outros. Falhar em encontrar esse equilíbrio pode dificultar conexões significativas. Por outro lado, alcançar esse equilíbrio garante que nossas interações sejam enriquecedoras e mutuamente gratificantes.

Construir conexões envolve navegar por uma rua de mão dupla, onde ambos dão e recebem amor, atenção, tempo e mais. Adam Grant explora essa dinâmica em seu livro "Give and Take", onde categoriza indivíduos como doadores, receptores ou equilibradores com base em como abordam dar e receber em suas vidas pessoais e profissionais. Grant destaca que os doadores, que priorizam ajudar os outros sem expectativas imediatas, frequentemente encontram sucesso e realização a longo prazo, enquanto os receptores priorizam o interesse próprio. Em última análise, adotar uma mentalidade doadora pode levar ao crescimento pessoal e ao sucesso. Reserve um momento para refletir sobre seus relacionamentos: você é um doador, um receptor ou um equilibrador?

Para a maioria de nós, mulheres, tendemos a dar mais do que receber. É o que as irmãs Emily e Amelia Nagoski se referem como a Síndrome do Doador Humano, em seu livro Burnout. A "Síndrome do Doador Humano" é um termo usado para descrever as expectativas sociais colocadas em indivíduos, muitas vezes mulheres, para priorizar o cuidado, atender às necessidades dos outros e cumprir papéis sociais em detrimento de seu próprio bem-estar. Embora seja natural querer doar, é importante encontrar um equilíbrio e evitar nos estendermos demais em detrimento de nossa própria saúde e bem-estar.

Vamos imaginar a vida como uma peça teatral, onde cada um de nós interpreta diferentes papéis. Da mesma forma, nos relacionamentos, assumimos vários papéis, como tomadoras de decisão, cozinheiras, ouvintes, organizadoras de festas, mediadoras de conflitos, a alegre, a mal-humorado, etc. Às vezes, continuamos desempenhando esses papéis por longos períodos, mesmo que nunca tenhamos feito um teste para atuar nesses papéis (como Lila lidando com um colega difícil). No entanto, chega um momento em que percebemos que o papel que estamos desempenhando já não está alinhado com nossas necessidades, valores ou identidade. Essa realização pode nos levar a reconsiderar e possivelmente fazer mudanças dentro do relacionamento ou, em casos mais drásticos, nos distanciar dele completamente.

Se você acabou de começar um novo emprego (como eu fiz há algumas semanas atrás), ou conheceu um novo amigo ou potencial parceiro, provavelmente ainda está construindo relacionamentos. Se esse for o caso, os pontos abaixo podem ajudá-la a navegar nessas águas de novas conexões de forma tranquila:

  • Demonstre um interesse genuíno em conhecê-los. Mostre curiosidade fazendo perguntas sobre eles.

  • Ouça mais - Você já pensou por que temos duas orelhas e apenas uma boca? Porque devemos ouvir mais e falar menos. Especialmente quando estamos tentando nos conectar com outras pessoas.

    • Para que alguém se sinta ouvido, precisamos mostrar que prestamos atenção, entendemos e podemos demonstrar que ouvimos adicionando algo ao que foi dito, mostrando empatia e validando seus sentimentos.

  • Busque interesses comuns, mas esteja aberto para aceitar as diferenças.

  • Não entre na conversa com sua "própria agenda", busque mais entender do que ser entendido.

  • Evite o que Steven Covey diz: "a maioria das pessoas não ouve com a intenção de entender, elas ouvem com a intenção de responder".

  • Evite atalhos ao conhecer alguém. Por exemplo: sou latina e conheço uma mulher negra, e naturalmente assumo que nos conectamos porque ambas fazemos parte de um grupo menos representado. Nesse caso, estaria generalizando e fazendo suposições. Sim, podemos nos conectar por isso, ou talvez não nos conectamos por sermos minorias, mas podemos nos conectar por sermos mães. Corrija seus erros e aprenda com eles.

Então, digamos que você já esteja em um relacionamento desafiador e tentando melhorá-lo. O primeiro passo é demonstrar flexibilidade e evitar sentir-se magoado ou se afastar se seus esforços para se conectar não forem imediatamente correspondidos. Mas como não levar para o lado pessoal?

Primeiro, preste atenção ao fenômeno conhecido como "Bias de Confirmação", que se refere à tendência das pessoas de buscar, interpretar, favorecer e lembrar informações de uma maneira que se alinha com suas crenças ou hipóteses existentes. Na história de Lila, ela entrou na conversa já convencida da arrogância de João. Quando o ouviu discutindo orgulhosamente o crescimento de sua equipe, isso apenas confirmou sua noção preconcebida de sua "superioridade". Essa nova informação serviu para reforçar sua opinião existente sobre ele. É possível que durante essa conversa, João estivesse tentando (à sua maneira) mostrar atenção, e cuidado para com Lila, mas ela ignorou isso porque estava focada em confirmar sua crença: que ele é egocêntrico e gosta de se gabar de suas realizações. Lila definitivamente tinha um bias de confirmação em relação à personalidade e estilo de comunicação de João.

E em segundo lugar, praticar empatia, estabelecer limites e promover a comunicação aberta, enquanto prioriza o autocuidado e gerencia expectativas, pode promover a compreensão mútua e o bem-estar pessoal. E felizmente, Lila se saiu bem ao buscar apoio de uma pessoa de confiança (seu amigo Pedro) que a ajudou a obter perspectiva para navegar em sua próxima interação desafiadora com João, de forma eficaz.

Comunicação

Esther Perel tem uma ótima analogia para a comunicação. Ela diz que toda vez que dizemos algo a alguém, é como se nossas palavras viajassem por uma terra de expectativas, suposições, mal-entendidos sobre o significado das palavras e filtros sobre como experienciamos a mensagem que nos chega. Então, nosso ouvinte responde, e a jornada volta para nós pelo mesmo caminho.

Você consegue imaginar a quantidade de coisas que podem dar errado durante essa ida e volta? Intenção, entrega, recepção, interpretação e resposta. Tantas oportunidade de dar errado, que várias coisas podem acabar passando despercebidas. Então, quem é responsável pela má comunicação? O falante ou o ouvinte? Resposta simples: Ambos.

Vamos fazer um exercício de atribuir significados às frases, reconhecendo seu impacto em diferentes pessoas. Por exemplo, durante uma reunião no trabalho, usei a frase "Nem mesmo Jesus agradou a todos, então teremos que tirar o melhor desta situação e seguir em frente." Este comentário tinha o objetivo de transmitir resiliência ao lidar com desafios. No entanto, um membro da equipe se aproximou depois e expressou desconforto, explicando que a menção a Jesus foi um gatilho para ele, devido a experiências religiosas negativas no passado. Levei esse feedback a sério e certifiquei-me de evitar tais referências no futuro. Essa situação me ensinou a importância de considerar perspectivas diversas e estar atenta a como nossas palavras podem ser recebidas e interpretadas. Lição aprendida!

Se praticarmos consistentemente uma conexão genuína com curiosidade, escuta ativa e empatia, combinada com uma comunicação competente que reflita cuidado, compreensão e autoconsciência, estabelecemos uma base sólida para construir e nutrir relacionamentos fortes. Ao garantir que as necessidades e expectativas de ambas as partes sejam reconhecidas e abordadas, abrimos caminho para conexões alegres e significativas, repletas de amor, confiança e realização em nossas vidas.

Como seria o mundo perfeito?

  • “Eu preciso me conhecer, antes de conhecê-lo!” - é importante que olhemos para nós mesmos. Busquemos comportamentos e reconheçamos padrões que temos ao tentar nos conectar com as pessoas. Mude-os, se necessário.

  • Evitamos o bias de confirmação buscando perspectivas diversas, questionando ativamente nossas suposições, reunindo informações de fontes confiáveis e estando abertos a mudar nossas crenças com base em novas evidências e novas perspectivas.

  • Somos conscientes de que, ao nos engajarmos na comunicação, nossas palavras carregam seus significados pretendidos enquanto viajam por diversos canais. No entanto, nuances como a entrega da mensagem, a recepção do ouvinte, interpretação e resposta subsequente podem levar a má comunicação.

Para pensar e refletir:

"Leve sua integridade, sua curiosidade, sua coragem e a nova educação que adquiriu e use-as para fazer a diferença. Quando você sai com amor, você se torna a esperança de outra pessoa." - Oprah Winfrey

Bora colocar em prática?

  • Em que papéis você se viu sem ter feito audição para eles? Como você renuncia a esses papéis e o que é necessário para isso?


Resources:

  • How is Work? Esther Perel - Em muitos episódios desta série, ela fala sobre inteligência relacional - a capacidade de navegar e gerenciar relacionamentos interpessoais de forma eficaz.

  • Give and Take - Adam Grant

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