Me escuta, por favor!




“Jeremy, será que é tão difícil você nos falar o que está pensando?” 

“Senta que lá vem a história!”

No Trabalho
Lila precisa comunicar um novo projeto (vamos chamá-lo de Projeto D) para a sua equipe, o qual precisa ser priorizado. Recentemente, sua equipe tem estado muito ocupada com muitos projetos em andamento ao mesmo tempo. Ela sabe que será difícil conseguir o comprometimento deles para priorizar este novo projeto. É hora de compartilhar os detalhes do projeto, seu escopo, prazos, funções e responsabilidades. Sua intenção é comunicá-los de uma maneira que os integrantes do seu time queiram se envolver, se sintam engajados e motivados a entregar o projeto e fazê-lo bem. Na reunião da equipe, depois de conversarem um pouco sobre o fim de semana e se atualizarem, ela se aproxima deles para falar sobre negócios:
"Olá equipe, vocês foram fantásticos nas últimas semanas mantendo os projetos A, B e C em andamento. Estou muito orgulhosa do trabalho que foi feito até agora. Vocês sabem que o Projeto D está chegando em breve e entendo que sua capacidade está quase zero no momento. Estou correta na minha suposição? Ela os ouve - deixa-os desabafar um pouco sobre o quão ocupados estão. Depois de reconhecer o sentimento avassalador deles, ela continua:
"O Projeto D é uma prioridade agora e teremos que encontrar uma maneira de fazê-lo acontecer. Vocês são excelentes colaboradores e sei que posso contar com vocês para isso. Alguma ideia do que poderíamos fazer para tornar este projeto bem-sucedido enquanto mantemos os outros em andamento?"

Em Casa O marido de Lila tem estado extremamente ocupado no trabalho e tem chegado tarde em casa nas últimas 3 semanas. Ele chega em casa depois do jantar e as crianças já estão na cama. Lila está irritada e frustrada com esse comportamento. Mesmo que ela entenda que o trabalho às vezes exige muito dos dois, ela está chateada com o fato de ele não estabelecer limites no trabalho. Seu comportamento está afetando ela e a dinâmica familiar em geral. Quando ele chega em casa hoje à noite, ela pergunta quando seria um bom momento para eles conversarem sobre um problema. Ele diz que depois de um banho, eles podem conversar enquanto ele come. O momento chega para a conversa: "Você sabe como você tem chegado tarde do trabalho?" ela pergunta. "Sim", ele responde, sentindo problemas pela frente. Lila continua: "Preciso dizer que isso está me colocando em uma situação difícil. Estou cansada depois de um dia de trabalho, tenho que dar atenção para as crianças, preparar o jantar, dar banho nelas, ler histórias para dormir, etc. Eu não tenho 5 minutos de descanso”. O marido está se sentindo defensivo porque sabe que é culpado por não ajudar, mas também está entendendo a posição de Lila. Ele diz: "Não quero que você fique exausta. É só que o trabalho tem exigido muito de mim ultimamente e estou tendo dificuldade em equilibrar família e trabalho no momento". "Eu sei, mas só quero que saiba que está ficando realmente difícil para mim e para nossa família. O que podemos fazer para melhorar?" Lila o convida a resolver o problema. Juntos, eles elaboram algumas pequenas mudanças em suas rotinas para dar a Lila o que ela precisa. Eles saem da conversa sentindo-se como um "time" que juntos resolveram um problema, sem ressentimento e raiva um do outro.

Vamos falar sobre isso: Ambas as situações que Lila enfrentou, no trabalho e em casa, tinham todas as razões para escalar. No trabalho, como chefe, ela poderia exigir que sua equipe entregasse mais um projeto, como: "Ei, pessoal, o trabalho tem sido muito difícil ultimamente e sinto dizer que precisamos entregar o Projeto D em duas semanas. Dê um jeito em como vão fazer isso!". O resultado seria: desengajamento da equipe, aumento do estresse e a qualidade do projeto (se entregue a tempo) provavelmente seria ruim. Sem mencionar o quão ressentida a equipe se sentiria em relação a Lila.

Em casa, além de seu esgotamento físico, sua frustração com o comportamento de seu marido era a combinação perfeita para ela ter um colapso e/ou uma briga agressiva, se ela se aproximasse dele logo após ele chegar em casa dizendo: "Não consigo acreditar que você não vê o quão egoísta você é. Você está sempre atrasado. Você não pensa nos seus filhos, quanto mais na sua esposa." Certamente, sua reação provavelmente se tornaria defensiva, levando a uma escalada de argumentos para raiva e insatisfação um com o outro, dificultando assim a resolução da questão subjacente.

Como mostra o desenho animado de Zits no topo da página, conciliar suas próprias necessidades com as dos outros pode ser um desafio. É essencial que nós sejamos comunicadores competentes, porque a boa comunicação satisfaz as necessidades práticas e sociais que temos, pode melhorar nossa saúde física e bem-estar emocional. Comunicadores competentes têm um repertório de comportamentos e são capazes de escolher o melhor comportamento para uma situação específica e executá-lo muito bem. Vamos identificar quais comportamentos Lila demonstrou em ambas as cenas:

No trabalho:

  • Conectar, então resolver: Lila passou um tempo no início da reunião conectando-se com sua equipe, fazendo perguntas genuínas sobre o fim de semana deles e verificando como estavam. Em seguida, ela passa para a parte de negócios, reconhecendo primeiro o trabalho que eles fizeram e dando-lhes crédito. No ambiente de trabalho, temos a tendência de pular direto para o problema em questão e esquecer que o problema será resolvido por pessoas. Empresas são feitas de pessoas e as pessoas precisam de conexão humana para serem motivadas a aprender, crescer e contribuir.
  • Convidá-los para resolver problemas: em vez de dar a eles a solução para o problema, ela demonstra ter a mente aberta e receptiva a pontos de vista opostos. Isso não apenas os ajuda a se envolverem mais na solução, mas também a ajuda a avançar com o projeto, pois ela não é nada sem sua equipe a apoiando.
  • Evitar suposições + Prestar atenção, entender, demonstrar que ouviu: Lila percebe o quanto a equipe está ocupada e usa esse tempo para verificar suas suposições e deixá-los falar um pouco sobre o que lhes frustra com o trabalho. É quando ela presta atenção ao que está sendo dito, reconhece seus sentimentos e demonstra que ouviu e entendeu. Esse comportamento ajuda Lila a criar um ambiente seguro para sua equipe e também a mantém atualizada sobre como o trabalho está evoluindo e o esforço por trás dele - como as pessoas estão se sentindo a respeito disso.
  • Escolha das palavras: você notou que Lila disse: "vocês são bons colaboradores" em vez de "vocês podem me ajudar?". Substantivos se relacionam mais com a identidade de uma pessoa e ao abordar o substantivo ("colaborador"), provavelmente incentivará a reflexão por parte da equipe, então talvez isso não seja apenas uma mudança de comportamento para este projeto (eles a ajudarão agora), mas uma identidade de "colaborador" que eles abraçarão e realmente a ajudarão no que for necessário.
Em casa:
  • Momento certo: Lila pergunta ao marido quando é o melhor momento para discutir algo importante para ela. Às vezes, sentimos vontade de conversar/desabafar, mas nosso parceiro não. Ou estamos com vontade de brigar, o outro não está. Meu marido e eu aprendemos que, quando vamos para a cama tarde da noite, não é o melhor momento para trazer "assuntos polêmicos", porque ambos estamos exaustos e não em nossos melhores comportamentos e humores. Manhãs ou hora do almoço são as melhores para nós abordarmos conversas difíceis. No trabalho, mantenha isso em mente também. Quando precisar ter uma conversa crítica, pergunte à pessoa se aquele é o melhor momento para isso. Eles podem não estar em seu melhor dia e um dia depois, o feedback será melhor recebido.
  • Linguagem do "eu": Lila começa declarando o que ELA precisa. Em vez de culpá-lo, ela mostra como se sente quando ele chega tarde em casa e como isso a afeta (e aos filhos). Quando usamos a linguagem do "você", geralmente queremos atribuir culpa e responsabilidade. "Você é egoísta quando chega tarde e é insensível em relação à sua família", em vez disso, ela usa: "Eu preciso que você saiba que me sinto em uma situação difícil quando não tenho 5 minutos de descanso porque tenho que lidar com a casa e os filhos, além do meu trabalho". Ao usar a linguagem do "eu", foi possível para Lila confrontar o marido honestamente, e sem culpar ou atacá-lo pessoalmente.
  • Palavras universais: Quando usamos palavras como: sempre, nunca, frequentemente e geralmente, desencorajamos o outro a mudar. Implicamos um comportamento fixo ou inalterável, desencorajando o outro de considerar ou fazer mudanças. Quando usamos uma linguagem mais flexível, damos espaço para o crescimento e adaptação. Em vez de dizer: "Você nunca me escuta", tente: "Eu sinto que às vezes minhas opiniões não são ouvidas". Ninguém pode discutir sobre como você se sente, o sentimento é seu. Mas no momento em que você culpa ou julga, o outro se ficará na defensiva.

Como seria no mundo ideal:
  • Utilizamos mais linguagem do "eu" em vez da linguagem do "você" durante conversas, especialmente as difíceis.
  • Substituímos palavras universais como "sempre" e "nunca" por comportamentos mais específicos.
  • Utilizamos mais substantivos para focar em qualidades ou características em vez de ações específicas (verbos), para que possamos inspirar reflexão e promover uma autoimagem positiva (por exemplo: "Eu sou corredor" - mesmo que eu tenha começado a correr ontem).
Para pensar e refletir:
  • Da próxima vez que você se sentir como Jeremy (na tira acima), reserve um momento para pensar sobre as dicas citadas nesse post e tente incorporá-las na sua comunicação. Posso garantir que se você implementá-las, sua comunicação não somente vai melhorar, como a qualidade dos seus relacionamentos também.
Bora dar o primeiro passo?

Visualize uma situação em sua vida em que você poderia ter dito uma das seguintes mensagens e pense em um alternativa usando a linguagem do “eu”:
  • "Você não está me dizendo a verdade."
  • "Você só pensa em si mesmo."
  • "Não seja tão sensível.
  • "Você não entende nada do que estou dizendo."
  • "Você não está me dizendo a verdade."
Sugestões para usar a linguagem do "eu":
  • Ao invés de: "Você não está me dizendo a verdade", use: "Eu não estou certa sobre o que você está dizendo. Você pode me ajudar a entender melhor sua perspectiva?"
  • Ao invés de: "Você só pensa em si mesmo", use: "Às vezes, sinto que minhas necessidades não são consideradas. Podemos discutir como podemos atender às nossas necessidades?"
  • Ao invés de: "Não seja tão sensível", use: "Estou achando difícil me expressar quando as emoções estão exaltadas. Podemos tirar um momento para nos acalmar e depois revisitar essa conversa?"
  • Ao invés de: "Você não entende nada do que estou dizendo", use: "Estou tentando comunicar meus pensamentos claramente. Podemos tentar abordar esse tópico de um ângulo diferente?"
Vamos estudar mais:
  • Looking in, Looking out - Este é um livro didático que usei na primeira aula que frequentei (‘Comunicação Interpessoal’) quando cheguei aos EUA. Ele me inspirou a aprofundar no mundo da comunicação interpessoal e me ajudou a moldar meu estilo de comunicação, consequentemente melhorando a saúde dos relacionamentos que tenho.
  • Finding Dori - Neste filme, à medida que Dori encontra o caminho de volta para casa, a comunicação eficaz é o que a ajuda a encontrar seu caminho.












Comments

  1. Adorei a linguagem do "eu" vou tentar aplicar nos meus relacionamentos!

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  2. Ajuda muito!!! Experiência própria :)

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  3. Lal, excelentes colocações, muito bem colocadas, se não há momento perfeito gere um, respeitando o momento de todos… gostaria de colocar um ponto de vista particular: a forma de comunicação da mulher e do homem são diferentes. Em quase tudo somos iguais, porém a mulher não desliga em momento algum, ela não tem a caixa do nada e o homem tem (fato), portanto quando falamos de “uma conversa” ela pode ser interpretada de formas diferente pelo homem principalmente. Uma conversa para a mulher é literalmente uma demonstração de afeto, respeito e amor… para o homem (novamente sob o meu ponto de vista) dependendo da abordagem se torna um desafio, um risco. Tentarei explicar com uma situação o meu ponto de vista, a mesma situação da Lila: se ela errasse o momento (e isso vale para ambos os lados) o homem já estaria armado para se auto proteger e a conversa escalaria exponencialmente, pois na cabeça dele por mais que saiba que está errado ele se auto defenderia (para não perder a “batalha”) pois o homem dificilmente difere ESTAMOS JUNTOS, do EU QUERO QUE SEJA ASSIM. Esta sua abordagem ao meu ver está perfeita para ambos os lados…grande lição… obrigado…

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    1. Lindo seu comentário. Com certeza, as dicas de comunicação nesse caso são aplicáveis para ambos os sexos. Precisamos de mais e mais homens aliados como você que esteja aberto para "tentar o diferente", só assim conseguiremos viver num mundo mais tolerante e amigável, com relações mais fortes e respeitosas.

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  4. It's not easy... we can change our mind to starting do things in a different way! Thanks Lu!

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    1. It is definitely not easy! It is an "every day" exercise to be mindful on how we communicate, so we can be more impactful, consequently building better and stronger relationships.

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