A Arte de Estar Presente!

Mosaico de paixões e interesses: liberando o poder de ter experiências diversas


"Senta que lá vem a história!"

Lila sempre valorizou receber cartas escritas. Nos velhos tempos, quando ela se correspondia com sua avó e amigos por cartas, isso tinha um significado especial para ela. Seja pelo toque pessoal da caligrafia única da outra pessoa nas páginas limpas, o tempo que dedicavam para escreve-la, pensando cuidadosamente em cada palavra comunicada, ou a constatação de que era uma lembrança tangível, preservando memórias de bons momentos, as cartas escritas ocupavam um lugar especial no coração de Lila. Por muitas razões, ela amava cartas. Enquanto Lila organizava sua correspondência do correio naquela tarde, algo chamou sua atenção: uma carta de sua amiga Beth.


Ela não podia acreditar. Que gesto carinhoso! Apenas algumas semanas atrás, Lila estava discutindo um dilema com Beth – a mesma Beth que agora lhe enviara esta carta. O dilema? Se Lila deveria ou não seguir uma profissão diferente. Cansada do mundo das vendas, ela ansiava por tentar algo novo. No entanto, seus anos de experiência em vendas minaram sua confiança em se aventurar em territórios desconhecidos. Lila procurou apoio de sua boa amiga Beth, uma mulher de 70 anos que havia embarcado em inúmeras empreitadas ao longo de sua vida. Lila admirava muito Beth por sua coragem de recomeçar repetidas vezes.


Sem mais delongas, Lila abre a carta:


“Querida Lila,


Espero que esta carta te encontre bem. Estive pensando na nossa conversa e em como você estava confusa e com medo de tentar algo novo. Pensei que compartilhar minha jornada pela vida com você poderia proporcionar alguma inspiração enquanto você navega pelo seu próprio caminho, especialmente agora, nesse momento  em que você  se encontra, decidindo se deve ou não deixar seu emprego e seguir algo novo.


Você sabe como minha vida tem sido um mosaico de profissões e paixões variadas. Aos vinte e poucos anos, eu era advogada, defendendo fervorosamente meus clientes no tribunal e alcançando uma posição de liderança como Procuradora do Estado, que me deu poder, influência e dinheiro que ajudaram a construir minha família. Adorava o desafio, mas depois de uma década, senti vontade de algo diferente. Então, persegui meu interesse pela filosofia, voltei para a escola e fiz meu mestrado em Filosofia. Imersa nas grandes obras, eventualmente ensinei filosofia em uma faculdade local. Encontrei imensa alegria em explorar as grandes questões da vida e em engajar com mentes jovens.


Nos meus quarenta anos, decidi seguir a paixão que tinha pela arte. Foi quando comecei a estudar para me tornar arteterapeuta, ajudando as pessoas a se curarem através da expressão criativa. E foi essa a porta que entrei quando cheguei aos cinquenta anos: o meu amor pela escrita. Comecei a criar contos e ensaios, alguns dos quais foram publicados em revistas literárias. Minha casa ficou cheia de pilhas de manuscritos e cadernos repletos de ideias.


Agora, aos 70 anos, já publiquei vários livros e continuo empolgada com o mundo das palavras, sentimentos e imaginação em que me mergulho toda vez que fico atrás da tela do computador (e do meu caderno – porque ainda sou uma amante das cartas escritas, como você provavelmente pode perceber pela surpresa que acabei de fazer a você). Também comecei a praticar yoga e meditação. Encontro paz e alegria na minha prática diária. Estava conversando com uma querida amiga outro dia e ela me falou sobre um centro comunitário onde ela é voluntária ajudando outras pessoas a descobrirem suas paixões. Acho que vou conferir isso em breve.


Tudo isso para te dizer que a vida não é um caminho reto, mas uma série de aventuras. Está tudo bem mudar de direção, tentar coisas novas e seguir diferentes paixões. Cada fase da minha vida me trouxe alegria e satisfação, e sinto que nunca deixei a idade ou o medo me deterem.


Então, Lila, enquanto você está no auge dos seus trinta e poucos anos, lembre-se de mim. Abrace sua curiosidade, explore seus interesses e não tenha medo de se reinventar. A vida é longa e cheia de oportunidades, não importa a sua idade”.


Lila fecha a carta e as palavras de Beth permanecem no ar. Em um mundo dominado pela comunicação digital instantânea, o ato de receber cartas tão atenciosas destaca-se como uma forma significativa, pessoal e carinhosa de conexão com sua amiga querida. Ela não consegue deixar de sentir uma empolgação extra em talvez seguir sua paixão pela fotografia.


Let’s talk about this:


Algum tempo atrás, eu assisti a uma palestra do TED chamada "A Vida Motivada pela Curiosidade" de Elizabeth Gilbert. Ela é conhecida por sua autobiografia: "Comer, Rezar, Amar". Nesta palestra, Gilbert aborda a ideia de perseguir uma vida criativa e gratificante, mesmo que alguém não tenha uma paixão única.


A palestra me fez pensar em várias situações na minha vida em que me senti tão pressionada a encontrar minha "paixão" e persegui-la incessantemente. Quando eu era criança, queria ser professora, depois, durante minha adolescência, enquanto meus amigos falavam sobre suas paixões e as carreiras que queriam seguir, eu estava considerando Medicina ou Comunicação Social (bem similares, né?) e acabei me tornando Fonoaudióloga, o que durou apenas alguns anos até eu me mudar para os Estados Unidos e precisar me reinventar. Quando decidi ficar nos Estados Unidos, continuei procurando uma paixão ou para ser sincera, nos primeiros anos, apenas procurava um emprego que pagasse minhas contas. Novamente, sentindo a pressão por não ter uma paixão, decidi fazer meu mestrado em algo que parecia interessante - Mestrado em Artes, Psicologia Organizacional, o que me ajudou a conseguir vários estágios e um emprego na Escola de Medicina de Stanford. Foi muito irônico trabalhar em uma escola de Medicina, já que no passado eu achava que minha paixão era a Medicina. Pulando de emprego em emprego até chegar à indústria de Experiência do Cliente. Será que CX é realmente minha paixão ou a vida simplesmente aconteceu e eu fui junto?


Em uma conversa com uma ex-gerente sobre meu desenvolvimento, ela me perguntou se, ao deixar aquele emprego, eu buscaria outra função na área de Experiência do Cliente e eu disse: “provavelmente não!” Eu poderia seguir mais em direção ao desenvolvimento de pessoas, porque isso é o que me traz mais alegria no trabalho. Eu amo ser líder e desenvolver outros líderes. Bom, resultado: eu acabei mudando de empresa mas continuei na indústria de CX. E a pressão de não saber se realmente sou apaixonada por isso bate à minha porta novamente.


Voltando à palestra de Gilbert, ela me ajudou a perceber que essa abordagem de "seguir sua paixão" não é para todos. Em vez disso, ela defende seguir a curiosidade como um guia mais suave e acessível para uma vida gratificante. Uau!!! Isso mudou algo dentro de mim. Tirei a pressão de mim mesma. Sou uma pessoa curiosa por natureza, e segundo ela, a curiosidade pode levar a descobertas e oportunidades inesperadas. Prestando atenção ao que desperta seu interesse, mesmo de maneira pequena, você pode embarcar em um caminho de aprendizado e exploração contínuos. Bingo!


Essa palestra aliviou a pressão de ter que identificar uma única paixão, o que pode ser intimidador e paralisante para algumas pessoas. Em vez disso, ela encoraja a abraçar uma abordagem mais fluida e exploratória. Ela sugere passos práticos para cultivar uma vida motivada pela curiosidade, como perceber o que chama sua atenção, estar aberta a novas experiências e não ter medo de tentar coisas diferentes sem a necessidade de um grande plano.


Usei esse podcast em um dos eventos de Liderança que conduzi há alguns anos com minha equipe, e enquanto discutíamos o poder de exercitar a curiosidade e estar aberta a novas experiências, percebi que não tinha um grande plano para seguir minha "suposta paixão pelo desenvolvimento de pessoas", mas ao facilitar a discussão com minha equipe, senti uma enorme sensação de realização que ajudou a comprovar a filosofia da Gilbert. Notei que a facilitação definitivamente era algo que me trazia alegria, realização e satisfação. Esse evento foi uma das atividades de trabalho mais gratificantes que já tive.


Finalmente, ela faz uma analogia tão boa que espero que ajude a aliviar a pressão em você se não tiver uma paixão específica a seguir. Ela fala sobre a diferença entre pica-paus (woodpeckers) e beija-flores (hummingbirds). Pica-paus usam seus bicos fortes e afiados para escavar cavidades nas árvores para nidificação. Beija-flores voam por aí se alimentando de néctar das flores e polinizando em muitos ecossistemas. Então vem a pergunta: você é um pica-pau ou um beija-flor? Você tem uma paixão específica que continua focando e desenvolvendo ou é um beija-flor que vai tentando coisas novas?


Não há certo ou errado em ser um ou outro, ou uma combinação de ambos. Acho que a mensagem de Gilbert é libertadora para aqueles que lutam para identificar uma única paixão dominante. Em vez disso, ela oferece um caminho mais acessível e menos assustador para a realização pessoal e criativa através da busca constante da curiosidade.


Parece que a amiga da Lila, Beth, é um beija-flor e encontrou prazer em ser assim. Lila se inspirará nas histórias de sua amiga? E você?

Como seria o mundo ideal?

  • Experimentar diferentes paixões pode nos permitir explorar nossos diversos interesses, talentos e capacidades, promovendo o crescimento pessoal e a autodescoberta.

  • Experimentar diferentes paixões pode cultivar resiliência e adaptabilidade, à medida que aprendemos a lidar com contratempos, falhas e incertezas.

  • Perseguir paixões diversas pode trazer alegria, entusiasmo e uma sensação de realização, melhorando nosso bem-estar geral e satisfação com a vida.

​​Para pensar e refletir

“Seu trabalho vai preencher uma grande parte da sua vida, e a única maneira de estar verdadeiramente satisfeito é fazer o que você acredita ser um ótimo trabalho. E a única maneira de fazer um ótimo trabalho é amar o que você faz. Se você ainda não encontrou, continue procurando. Não se acomode. Como em todos os assuntos do coração, você saberá quando encontrar." Steve Jobs

Bora dar o primeiro passo:


  • O que você valoriza mais: profundidade de expertise em uma área ou amplitude de experiência em múltiplos interesses?"

    • Você pode valorizar um pouco de ambos. Se for o caso, como você pode melhorar o equilíbrio entre os dois para criar uma vida ainda mais gratificante e satisfatória?


Resources:


The curiosity driven-life - by Elizabeth Gilbert


 

Comments

  1. Lindo Lu, como todos os seus posts. As cartas me lembraram das várias cartinhas durante o tempo de faculdade. Tenho todas guardadas com carinho. As suas sempre eram reconhecidas com a forma como dobravas.

    Realmente sou o pica-pau e sometimes queria ser um pouco do beija-flor. Uma grande inspiração para continuar em busca da minha profundidade de expertise e explorar novos talentos e capacidades. Bjs, Zuca

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