Permission to Pause

Dança da Cadeira: de Secretária a Diretora




"Senta que lá vem a história"

Lila sempre sonhou com uma carreira em gestão corporativa, mais especificamente, como vice-presidente ou presidente. Recém-formada, conseguiu seu primeiro emprego como assistente administrativa em uma empresa de tecnologia. Lila era eficiente, proativa e logo se tornou a pessoa de referência para resolver os problemas do escritório. Sua mesa, equipada com uma cadeira padrão de secretária, ficava no coração das operações do escritório.


Os anos passaram e o trabalho árduo de Lila não passou despercebido. Ela foi promovida a gerente de escritório, mas apesar do novo título, suas responsabilidades continuaram sendo principalmente de apoio a outros times. Lila se viu coordenando agendas, planejando eventos e lidando com logística, tudo isso enquanto sentava na mesma cadeira de secretária.


As aspirações de Lila para uma posição de vice-presidente pareciam cada vez mais distantes. Ela via colegas homens, com experiência e habilidades comparáveis, ascendendo a cargos executivos, com caminhos aparentemente desimpedidos. A frustração começou a crescer dentro dela. Lila sabia que tinha as capacidades e a visão para contribuir em um nível mais alto, mas as oportunidades eram difíceis de alcançar.


Uma tarde, após mais um dia particularmente exaustivo fazendo mil coisas e resolvendo milhares de problemas, Lila decidiu que era hora de uma mudança. Ela agendou uma reunião com seu chefe, Mark, um dos vice-presidentes da empresa. Nervosamente ajustando a altura de sua cadeira de secretária, ela se preparou para apresentar seu caso.


"Mark", ela começou, "estou nesta empresa há oito anos. Vi nosso crescimento e contribuí significativamente para o nosso sucesso. Acredito que é hora de assumir um papel onde eu possa ter um impacto maior."


Mark olhou para ela, surpreso. "Lila, você tem sido inestimável para nós. Mas tem certeza disso? Os cargos de Diretoria são muito exigentes."


"Tenho certeza", respondeu Lila com confiança. "Estou pronta para o desafio. Tenho lidado com responsabilidades de alto nível há anos, só que sem o título ou reconhecimento."


Mark fez uma pausa, considerando suas palavras. "Você está certa, Lila. Temos confiado muito em você, e é hora de reconhecermos isso. Vamos discutir um plano para sua transição para um cargo de Diretoria."


Nos meses seguintes, Lila mudou-se para seu novo escritório, equipado com uma cadeira de Diretora. A adaptação não foi sem obstáculos, mas Lila prosperou. Sua nova posição lhe permitiu influenciar a estratégia da empresa, mentorar novos talentos e implementar idéias inovadoras.


A jornada de Lila não foi apenas sobre mudar de cadeira; foi sobre romper as limitações impostas a ela e assumir um papel onde ela pudesse realmente liderar. Sua história inspirou outras mulheres na empresa a perseguirem suas ambições e a falarem e defenderem a si mesmas, sabendo que, com determinação e coragem, elas também poderiam sair da cadeira de secretária para uma cadeira de Diretora ou até mesmo de Vice-presidente.


Vamos falar sobre isso:

Não é novidade que as mulheres são frequentemente sub-representadas em posições executivas e de liderança em comparação com funções de apoio. Segundo o relatório "Women in the Workplace 2023" da McKinsey & Company, as mulheres ocupam apenas cerca de 28% dos cargos de liderança. E para adicionar à injustiça, ainda encontramos frequentemente mulheres em funções de apoio e administrativas, como assistente administrativa e secretária.

Você já jogou o jogo das cadeiras quando era criança? No jogo das cadeiras, os jogadores competem por um número limitado de cadeiras. De maneira semelhante, as mulheres no local de trabalho frequentemente competem por um número limitado de posições de alto escalão, enfrentando uma competição maior devido a preconceitos sistêmicos. Assim como os jogadores precisam se mover e se adaptar constantemente quando a música toca, as mulheres frequentemente precisam ser flexíveis e adaptáveis em suas trajetórias de carreira, provando continuamente seu valor e navegando pelas dinâmicas do local de trabalho.

Há muitos anos, eu estava visitando um dos parceiros em um call center e, como de costume, passei o dia todo na operação, conversando com os agentes, fazendo focus groups, atendendo contatos, etc., até que recebi uma ligação dizendo que o presidente daquele site específico queria falar comigo. Eu disse: "Claro, a que horas ele vai chegar aqui?" ingenuamente pensando que ele me encontraria nas Operações. Naquele dia específico, estava extremamente quente e, por algum motivo, o ar-condicionado não estava funcionando e eu já tinha escalado isso para a equipe de instalações porque era impossível esperar um bom desempenho daqueles pobres agentes que mal conseguiam pensar naquele ambiente quente. Então, uma reunião com o presidente parecia muito oportuna para escalar isso ainda mais.

Fui escoltada até o 7º andar para uma reunião com o presidente e foi então que percebi que seu escritório se parecia com uma "Torre de Marfim". As salas espaçosas, móveis modernos e bonitos, temperatura perfeita, além da disponibilidade de café, lanches, água gelada e outras amenidades luxuosas, faziam parecer um paraíso. Naturalmente, ele não tinha razão para ir até o 3º andar, onde nossos agentes estavam literalmente numa sauna. Não preciso dizer que a cadeira dele não era apenas grande e confortável, mas também extremamente bonita e luxuosa.

Infelizmente, muitas organizações têm preconceitos implícitos ou barreiras estruturais que dificultam a ascensão de grupos sub-representados (incluindo mulheres) a cargos de liderança sênior e a alcançar a "Torre de Marfim". Como garantimos que todas recebam uma "cadeira agradável" e/ou um ingresso para a "Torre de Marfim"?

Assim como em um jogo inclusivo de cadeiras, todos têm a chance de participar e ninguém fica de fora. Isso pode simbolizar a importância de políticas inclusivas no local de trabalho que garantam igualdade de oportunidades para as mulheres (e outros grupos sub-representados) avançarem e participarem de cargos de liderança.

Podemos também adaptar o jogo para diferentes habilidades. Da mesma forma que a dança das cadeiras pode ser adaptada para aqueles com mobilidade limitada, os locais de trabalho também precisam se adaptar para apoiar as mulheres através de políticas como horários de trabalho flexíveis, licença parental e programas de mentoria. É crucial também que destaquemos mais os "movimentos" que as mulheres têm. Nossas contribuições e conquistas precisam ser reconhecidas e celebradas, garantindo que sejam visíveis e valorizadas dentro da organização.

No jogo das cadeiras, as pessoas enfrentam a eliminação, assim como as mulheres podem enfrentar retrocessos em suas carreiras devido a várias barreiras. No entanto, a resiliência e a perseverança são fundamentais, assim como os jogadores tentam novamente na próxima rodada, precisamos continuar tentando e aprendendo em cada rodada, construindo resiliência e pensamento estratégico para navegar em nossas trajetórias de carreira em cada rodada.

E o mais importante, precisamos continuar falando sobre como as mulheres frequentemente equilibram múltiplos papéis e responsabilidades, tanto profissionalmente quanto pessoalmente, exigindo habilidades de gestão de tempo e equilíbrio.

Imagine um escritório corporativo onde o avanço na carreira é mostrado como o jogo de cadeiras. Nesse cenário, as cadeiras representam posições de liderança. Cada vez que uma mulher consegue uma cadeira, isso simboliza ela alcançando um cargo de liderança. No entanto, a música (representando as expectativas sociais, preconceitos e barreiras organizacionais) toca de forma imprevisível, exigindo que estejamos constantemente alertas e sejamos adaptáveis. Quando a música para, apenas aquelas que são rápidas, estratégicas e resilientes garantem seus assentos.

Outro dia, meu marido e eu estávamos comprando uma cadeira de escritório para as semanas que trabalharemos no Brasil (durante as férias das crianças). De repente, meu marido diz: "Não acredito nisso!" Existem diferentes tipos de cadeiras, como esperado, mas a surpresa foi ver suas descrições: Cadeira de Secretária, Cadeira de Diretor e Cadeira de Presidente (foto abaixo para provar o evento infeliz). Essa experiência foi minha motivação para o post desta semana. Como no ambiente atual ainda temos essa expectativa social de que secretárias merecem cadeiras de pior qualidade do que presidentes? E como em português, usa-se palavras femininas para se referir a uma mulher, aqui está a triste (e revoltante) descrição:  Cadeira SecretáriA, Cadeiras de DiretoR e PresidentE.

Assim como Lila fez na história desta semana, precisamos continuar falando quando vemos essas desigualdades e, através de treinamento, mentoria e políticas de apoio, podemos garantir que o jogo não seja injustamente manipulado contra as mulheres, proporcionando igualdade de oportunidades para todos os participantes. Dessa forma, o jogo do avanço na carreira se torna mais inclusivo, justo e solidário, muito parecido com uma atividade bem organizada de cadeiras que todos podem desfrutar e ter sucesso.

A presença de mulheres em todos os setores não apenas promoveria justiça social, mas também levaria a melhores resultados de negócios, maior inovação e um ambiente de trabalho mais harmonioso, além de ser um lugar mais justo, equilibrado e próspero para todos.

Como seria o mundo perfeito?

  • As mulheres estariam representadas igualmente em todos os níveis hierárquicos, desde funções de entrada até cargos executivos. 

  • As lideranças femininas seriam comuns, trazendo perspectivas diversas e inovadoras para a tomada de decisões. Um ambiente onde todas as vozes são ouvidas e respeitadas, independentemente do gênero.

  • Processos de recrutamento e promoção seriam transparentes e baseados em mérito, com políticas que garantissem igualdade de oportunidades para todos os gêneros.

  • Seriam promovidas culturas corporativas inclusivas, que valorizam a diversidade e combatem preconceitos e discriminações.

  • Modelos de trabalho flexíveis, como home office e horários flexíveis, seriam comuns e acessíveis a todos, permitindo que as mulheres possam equilibrar carreira e responsabilidades pessoais. 

  • Acesso igualitário a oportunidades de treinamento, desenvolvimento profissional e mentorias com programas específicos para apoiar o crescimento de mulheres em áreas tradicionalmente dominadas por homens.

  • As conquistas e contribuições das mulheres seriam reconhecidas e celebradas tanto quanto as dos homens, criando um ambiente de trabalho motivador e inspirador.

​​Food for Thought:

"No futuro, não haverá líderes femininas. Haverá apenas líderes." - Sheryl Sandberg


Call for action:


  • O que você tem feito para promover um ambiente de trabalho mais justo, igualitário e equilibrado para as mulheres? Escolha apenas UMA e invista nela. Converse com outras mulheres, peça ajuda, divide sua experiência, tenha uma conversa com um homem que pode ser aliado nesse trabalho de inclusão. 


Resources:


  • Lean in: Sheryl Sandberg incentiva as mulheres a irem atrás de suas ambições, a se defenderem no ambiente de trabalho e a buscarem papéis de liderança, desafiando as barreiras sociais e profissionais.

  • Mckinsey Report - Mulheres no ambiente de trabalho- relatório de 2023




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