The Uncomfortable Silence

Polvo descoordenado: o equilíbrio entre vida pessoal e profissional


Senta que lá vem a história

A brilhante luz do sol da manhã brilhava no escritório de Lila, em sua casa, iluminando sua mesa bagunçada com livros e artigos que ela usou para o último projeto que estava terminando. Enquanto ela se concentrava no trabalho, seu telefone apitou com uma mensagem de Mia, sua amiga sem filhos: “Tem um horário livre para o almoço?”


Lila pensou por um momento, considerando seu prazo de entrega do projeto que se aproximava e que teria que parar de trabalhar mais cedo para pegar as crianças na escola. Então ela respondeu, sem se reconhecer na decisão que tomou:


“Ótimo, no Pluto às 11:30?”


Tirar essa pausa significava que a Lila poderia voltar ao trabalho se sentindo renovada e pronta para enfrentar suas tarefas.


Já no restaurante Pluto, a conversa entre as amigas seguia animada. Lila falava sobre as agendas ocupadas de seus filhos e os próximos eventos escolares, enquanto Mia ouvia com interesse genuíno, comendo sua salada.


“Às vezes eles me deixam louca, as crianças são meus projetos mais difíceis e demandantes, mas eu não trocaria isso por nada,” Lila ri.


“Não sei como você dá conta de tudo” Mia comenta com admiração. Ela adorava passar tempo com sua amiga e ouvir sobre as aventuras da família.


Mais tarde naquele dia, Lila navegou por chamadas de vídeo com clientes internacionais, planejando uma campanha futura. Apesar das demandas da rotina noturna de sua família, ela sobreviveu. Enquanto isso, Mia participou de uma sessão virtual de brainstorming com sua equipe. Suas ideias inovadoras geraram entusiasmo entre seus colegas, impulsionando o projeto adiante. Ao final da reunião, um colega comentou: “Suas perspectivas são sempre tão valiosas.”


Enquanto Mia passeava com seu cachorro mais tarde naquele dia, ela se sentia contente e realizada. Embora sua vida não girasse em torno de filhos, sua carreira lhe trazia desafios, crescimento e relacionamentos significativos. Ela valorizava poder conciliar o trabalho com momentos com os amigos, aprendizado e paixões pessoais.


Do outro lado da cidade, deitada na cama naquela noite, Lila refletia sobre os comentários de Mia - como ela conseguia dar conta de tudo? Equilibrar família e trabalho pode ser complicado. Mas, enquanto o cansaço de seu dia agitado finalmente a empurrava em direção ao sono, uma sensação de gratidão a envolveu. A verdade é que Lila conseguia lidar com tudo isso por causa de seu incrível sistema de apoio - seu parceiro, a ajuda de seus pais e seus amigos. Com o tempo, ela aprendeu o valor de pedir ajuda e estar bem com fazer o "suficiente" em vez de perseguir a perfeição.

Vamos falar sobre isso:

Você está em busca da fórmula mágica para equilibrar trabalho e família perfeitamente? Se sim, sinto lhe dizer que não tenho essa fórmula! Mas, vindo de alguém que concilia carreira e vida familiar por anos, tenho algumas histórias para contar! Por favor, tenha em mente que não estou aqui para provar nada ou dizer que este é o único caminho, mas espero que as histórias e comentários abaixo possam abrir caminho para outras mulheres tentarem.


Alcançar um equilíbrio entre família e trabalho é essencial para nosso bem-estar holístico, sucesso profissional e relacionamentos pessoais gratificantes. Há alguns anos, minha paixão pela carreira chegou ao ponto de se tornar uma obsessão, e a realização que eu sempre encontrava no trabalho desapareceu, levando ao esgotamento e problemas de saúde relacionados ao estresse (até desencadear uma doença autoimune que eu nem sabia que tinha). O primeiro ponto - bem-estar holístico comprometido - checked.


Senti que não estava indo para lugar nenhum no trabalho. Pequenos problemas se transformaram em grandes fontes de estresse. Parecia que eu atraía todos os problemas para mim. Segundo ponto - crescimento profissional estagnado - checked. E, finalmente, percebi que não tinha visto muitos dos meus bons amigos por meses (ou até anos). Conciliar uma carreira exigente, três filhos pequenos, casamento e vida familiar consumia todo o meu tempo, relegando as amizades próximas a um papel secundário. Terceiro ponto - relacionamentos pessoais prejudicados - checked.


Não foi culpa de ninguém que passei por tudo isso. Até que finalmente percebi que algo precisava mudar. Fui consumida pelas demandas cotidianas e negligenciei minhas próprias necessidades. Foi quando aprendi algumas lições cruciais que transformaram minha vida, proporcionando um melhor equilíbrio entre minha carreira e vida pessoal. Essas mudanças me permitiram prosperar em todos os aspectos da minha vida: como líder, mãe, esposa, filha, irmã e amiga.


Lição #1: É preciso uma aldeia para criar uma criança


Precisamos de um esforço coletivo para nos orientar em direção ao sucesso e ao bem-estar. Precisamos uns dos outros. A vida apresenta desafios, responsabilidades e tarefas que podem ser esmagadoras às vezes, e ter apoio dos outros pode fazer uma grande diferença. Seja auxílio em projetos relacionados ao trabalho, apoio emocional nos momentos difíceis, ou ajuda com tarefas cotidianas (como buscar seus filhos na escola), todos podem se beneficiar de uma comunidade de apoio ou rede de amigos e familiares. Não podemos resolver todos os nossos problemas sozinhos e não precisamos fazer isso.


Meu marido e eu somos muito abençoados por ter meus pais morando perto de nós e ajudando com as crianças. Mas levei anos para aprender a estar bem com o “pedir ajuda”. Um dia, meu pai disse: “Você não confia em mim e na sua mãe para cuidar dos seus filhos?” Ouvir isso foi um tapa na minha cara. Claro que confio nos meus pais, mas era o senso de ser uma supermulher que me impedia de admitir que precisava de ajuda. Precisei praticar humildade e reconhecer que precisava sim de ajuda e meus pais nos ajudando, não faria de mim uma mãe pior. Pelo contrário, ao dividir as tarefas, agora posso investir tempo e energia em nutrir relacionamentos significativos com meus filhos, marido, família ampliada e amigos. 


Pedir ajuda não é somente quando se tem criança. Trabalhamos tão arduamente, se não mais, do que os homens, tanto no trabalho quanto em casa. Mesmo dentro de nossas casas, as responsabilidades domésticas tendem a recair mais sobre as mulheres. Por quê? No meu caso, antes de ter filhos, meu marido e eu dividíamos as tarefas. Os finais de semana eram para a faxina da casa, e durante a semana, eu cuidava do jantar enquanto ele lavava a louça. No entanto, logo percebi que cozinhar envolvia muito mais do que apenas preparar a refeição - incluía compras de supermercado, a preparação dos alimentos e limpeza. Enquanto isso, eu me via fazendo pequenas tarefas todos os dias enquanto meu marido estava contente com a faxina semanal apenas. Isso levou ao acúmulo de ressentimento porque nossas definições de "limpeza" eram diferentes. Isso destacou a importância de ajustar os papéis e ter conversas abertas para garantir que ambos estavam sentindo que as tarefas estavam sendo divididas justamente. 


Quem faz parte da sua aldeia?


Lição #2: Não busque a perfeição - Adote a mentalidade do Polvo Descoordenado


A pergunta que Mia fez para Lila é uma que eu já ouvi várias vezes também: “como você dá conta de tudo?” Para ser sincera, ainda estou descobrindo isso. Em alguns dias, parece que estou fazendo um malabarismo com uma dúzia de coisas ao mesmo tempo: “500 mil mamãe!”, “para com isso!”, “estou com fome”, “alarme de reunião em 10 minutos!”, “mensagens no Slack” e uma enxurrada de notificações de e-mail. Em dias assim, fico imaginando em escapar para uma floresta, cercada apenas pelos sons da natureza. São nesses dias que me sinto como um polvo descoordenado. Eu até consigo fazer as coisas, mas de forma desajeitada como um polvo cambaleante aprendendo a nadar.


No passado, dias assim me deixavam de mau humor e me faziam sentir terrível. Eu ficava remoendo como falhei como mãe, profissional e esposa. Mas não me sinto mais assim. Aprendi a abraçar a imperfeição. Sim, posso me sentir mal se gritei com meus filhos, mas depois de me acalmar, conversamos, pedimos desculpas se necessário e seguimos em frente. Aprendemos com nossos erros, temos conversas abertas e praticamos o perdão, tanto de um para o outro quanto para mim mesma.


Mulheres sem filhos frequentemente enfrentam desafios semelhantes. A sociedade espera que tenhamos sucesso em nossas carreiras, mantendo também uma casa perfeitamente limpa e organizada. Isso levanta a questão: essas pressões são da sociedade ou nós mesmas estabelecemos essas expectativas altas?


A oportunidade que vejo para nós mulheres é que somos muito duras conosco tentando resolver todos os problemas do mundo sozinhas. Não paramos até nos esgotamos - e esse é o preço que pagamos pela perfeição. Quantas de nós dizem: "Vou descansar depois de lavar a louça, dobrar a roupa e organizar meu quarto bagunçado"? Até chegar a hora de descansar e você ficar tão exausta que não consegue fazer nada prazeroso porque está esgotada e desaba na cama. Não precisamos fazer isso, relaxar, focar no que precisamos, fazer o que gostamos, deixar a louça suja na pia, não é uma perda de tempo, é um investimento em nosso bem-estar.


Com tantas tarefas em nossas vidas diárias, às vezes cada tarefa parece ter vida própria, assim como os tentáculos do polvo, estendendo-se em direções diferentes sem um plano claro. Nossas ações durante esses dias agitados nem sempre são perfeitamente coordenadas e está tudo bem. Apesar da loucura, às vezes dou risada de mim mesma ao perceber a semelhança dos meus dias agitados com um polvo navegando no oceano - trata-se de se adaptar e encontrar nosso ritmo sem a pressão da perfeição a cada momento e em cada tarefa.


Lições #3: Seja gentil consigo mesma


Uma vez ouvi que "ter uma vida equilibrada proporciona às mulheres resiliência e adaptabilidade para lidar com vários desafios da vida. Isso as capacita a navegar por transições como mudanças de carreira, dinâmicas familiares e crescimento pessoal com maior facilidade." Lindamente dito, mas tão desafiador de praticar.


Eu acredito que as mulheres são especialistas em resiliência. Temos que lutar muito por nosso lugar na sociedade, no trabalho e, infelizmente, às vezes, até mesmo em nossos relacionamentos. Essa luta constrói resiliência em nós, ajudando-nos a enfrentar problemas complexos e urgentes que se acumulam em nossas vidas. A resiliência é uma forma de crescimento. Portanto, vejo isso como uma vantagem significativa porque, através da resiliência, crescemos, aprendemos e expandimos nossas habilidades e capacidades emocionais.


Eu tive duas situações no passado que realmente tocaram meu coração e me deixaram triste e contemplativa por semanas. Essas situações também ilustram como ser duro consigo mesma não ajuda em nada. Uma vez, quando Lara, minha filha, tinha 2 anos, ela pegou minha bolsa e disse: “Tchau pessoal, estou indo para uma viagem de negócios” e caminhou em direção à porta. Meu marido riu da situação, mas eu me peguei chorando. Ela estava me imitando, relembrando os dias em que eu costumava viajar frequentemente a trabalho. Anos depois, quando Luca estava na primeira série, ele escreveu uma carta para mim no Dia das Mães. Entre os belos sentimentos que ele expressou, uma palavra chamou minha atenção: “ela é muito trabalhadora”. Mais uma vez, lágrimas rolaram pelo meu rosto.


A resiliência se manifesta nessas duas histórias através das emoções de tristeza e reflexão que as situações evocaram em mim naquela época. Apesar dos desafios e do impacto emocional de ficar longe dos meus filhos por causa do trabalho, hoje reflito sobre esses momentos com uma mistura de tristeza e gratidão, pois me mostram a resiliência que criei em enfrentar as complexidades de equilibrar trabalho e vida familiar. Apesar das lágrimas derramadas, eu segui em frente e continuo sendo muito grata pelo o amor e a compreensão demonstrados pelos meus filhos.


Não vou negar que mesmo hoje, esse tipo de situação ainda toca meu coração. No entanto, aprendi a não mais me sentir culpada por gostar do meu trabalho, por encontrar realização na minha carreira. Não sinto mais a necessidade de me desculpar por ser quem sou — sou uma ótima mãe e uma profissional bem-sucedida que ama o que faz.


Eu sou um modelo para meus filhos. E sigo forte no meu compromisso em tentar equilibrar trabalho e vida familiar, constantemente. Espero que isso ajude a estabelecer um exemplo positivo para eles, mostrando que é possível buscar objetivos de carreira enquanto também priorizamos o tempo em família e pessoal. Gosto de acreditar que essa abordagem ajudará a sociedade a quebrar estereótipos de gênero e incentivará as futuras gerações a buscar uma vida equilibrada.

Como seria o mundo perfeito?

  • Identificamos quem são as pessoas que podem nos ajudar em diferentes áreas da nossa vida e pedimos ajuda.

  • Estamos bem em ser imperfeitos e agir de forma imperfeita quando as demandas estão muito altas.

  • Somos gentis conosco mesmas e continuamos construindo resiliência e aprendendo com experiências passadas.

Para pensar e refletir:

"Você está fazendo muitas coisas que não são primárias para você." - Tara Westover


Bora dar o primeiro passo:

  • Espero que esta postagem te inspire a pensar sobre o que tem funcionado para você quando se trata de equilibrar vida e trabalho.

  • Estimule conversas com seus parceiros e amigos sobre como eles enxergam esse equilíbrio e como todos nós podemos agir para criar um ambiente mais solidário para mulheres em diversas áreas da vida


Indicações de leitura:

Lean in - Sheryl Sandberg - nesse livro ela discute os desafios enfrentados pelas mulheres no ambiente de trabalho e ela encoraja as mulheres a seguirem suas ambições profissionais equilibrando com as responsabilidades com a família.

The gifts of imperfection  - Brene Brown discute vulnerabilidade, vergonha, e a importância de abraçar nossas imperfeições. 


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