Permission to Pause

Vaso de Decoração


Senta que lá vem a história!” 
Esta é uma história muito pessoal. E não será contada sob o disfarce de Lila. Eu vou contar usando minha própria voz. Como uma mulher latina vivendo e trabalhando nos Estados Unidos, estou tão acostumada a vivenciar pequenas microagressões, como quando os homens demonstram surpresa sobre uma conquista que tive ou ironicamente dizem "Eu amo sua empolgação". Normalmente estou pronta para combatê-las. Mas hoje algo aconteceu comigo que me fez congelar e ficar sem ação. Porque veio não de uma, mas de duas mulheres brasileiras. 

Precisávamos obter a certidão de nascimento e o passaporte brasileiro para Mateo, o meu filho mais novo. É um processo que temos adiado porque requer muita documentação e uma viagem a San Francisco para o consulado. Depois de todas as dores de cabeça que pessoalmente passei para conseguir um agendamento, finalmente vamos resolver isso. 

Quando somos chamados à janela para resolver primeiro a certidão de nascimento, uma mulher muito educada e simpática inicia o processo, e não passa de 2 minutos de conversa quando ela começa a se referir apenas ao meu marido. Mesmo eu sendo a pessoa que solicitou a certidão de nascimento (a declarante), ela diz que precisará apenas da assinatura dele, já que ELE é o declarante. O quê?? Eu era a declarante. Enfim, meu marido faz o que precisa ser feito e nós voltamos para a área principal para esperar o processamento do passaporte. 

"Você viu o que eu vi?" perguntei ao meu marido. 

"Sim. Estranho né?!" ele disse. 

Estranho? Mais do que estranho, foi desrespeitoso. Mas eu não pude entrar em discussão ali, porque ainda precisávamos falar com outra pessoa sobre o passaporte. Nem preciso dizer que tivemos a mesma experiência: uma mulher simpática que totalmente desconsiderou minha presença. Sinceramente, me senti como um vaso decorativo ou um cachorro de apoio. Sinceramente, mais como um vaso, que fica ali, sem ninguém olhar para ele. Pelo menos, se fosse um cachorro de apoio, as pessoas olhariam com carinho. 

Vamos falar sobre isso 

Depois da nossa visita, meu marido e eu conversamos sobre isso. Ele reconheceu que foi uma situação estranha, mas acredita que elas estavam apenas seguindo o protocolo. E esse comentário me deixou ainda mais desconfortável. Esse é o tipo de coisa que é sistêmica. O preconceito contra as mulheres está enraizado na sociedade. Ambos os pais estavam presentes, por que o "pai", o que assinou tudo, precisava ser o principal? A mãe era menos importante? 

Infelizmente, existem pressupostos na sociedade que são atribuídos às mulheres (neste caso, o homem é mais capaz de resolver coisas burocráticas). Aquelas mulheres foram vítimas de um “Bias inconsciente”. Eu digo inconsciente porque acredito que elas nem perceberam o que fizeram porque esse bias já está dentro do sistema que elas trabalham. Esse “bias inconsciente” se refere a atitudes ou estereótipos a favor ou contra algo, alguém, ou um grupo de pessoas comparado com outros, normalmente de uma maneira injusta. 

Esses bias afetam nossa compreensão, ações e decisões de forma inconsciente. Esses preconceitos podem influenciar como percebemos e interagimos com os outros, muitas vezes levando à discriminação ou tratamento injusto e não intencional com base em características como raça, gênero, idade, orientação sexual ou etnia. 

Fiquei decepcionada com toda a situação e ainda mais triste com minha própria atitude. Eu não fiz nada. Não desafiei o preconceito que aquelas mulheres tinham sobre ter um "homem" no comando. Não responsabilizei as mulheres pelas ações que estavam exibindo. Ou pelo menos as eduquei sobre o que possivelmente estava se passando naquele momento para que elas ficassem “conscientes” de seus biases e não repetissem esse comportamento. Apenas sentei ali na minha posição "decorativa" e "apoiei meu marido", que estava encarregado de tudo porque outra mulher decidiu que deveria ser assim. 

Isso para mim foi estranho, decepcionante e triste. Quantas vezes você já se sentiu assim? O que torna tudo ainda mais triste para mim é a falta de sororidade. Foram “mulheres” que me fizeram me sentir dessa forma. Precisamos enxergar além dos pressupostos das regras impostas que a sociedade tem para as mulheres. Não podemos nos prender aos padrões da sociedade sobre quem merece o quê e como as coisas devem ser feitas. Não vamos esperar pela próxima situação. Vamos ser corajosas para levantar as mãos e advogar por nós mesmas! 

Como seria o mundo ideal: 
  • Ambientes nos quais as pessoas estão prontas para desafiar e interromper o preconceito em nós mesmos e nos outros. Interrompendo o preconceito, todos nós crescemos, progredimos e modelamos os comportamentos inclusivos.
  • Que a coragem seja um elemento crítico das boas interações humanas inclusivas. Para pensar e refletir: O que acontece quando você falha em interromper o bias? Quais são as implicações para você, sua família, sua equipe, sua comunidade se você alimentar o bias dentro de você e dos outros?

Bora dar o primeiro passo? 
  • Tenha uma conversa com seus amigos, colegas ou parceiros sobre o preconceito inconsciente contra as mulheres. O que eles pensam sobre isso? 
  • Dedique um tempo para refletir sobre a bela frase de Maya Angelou: "Aprendi que as pessoas esquecerão o que você disse, as pessoas esquecerão o que você fez, mas as pessoas nunca esquecerão como você as fez sentir".
Vamos estudar mais: 

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