Eu Primeiro!





“Senta que lá vem a história!” 

Lila é uma mãe que trabalha fora e tem dois filhos com menos de 6 anos de idade. Ela tenta dar conta de várias responsabilidades sem muito apoio e recursos. Seu emprego em tempo integral de vendas é exigente e estressante. Além do trabalho, ela cuida dos filhos, gerencia as tarefas domésticas e cuida de seus pais idosos, que moram a cerca de 40 minutos de sua casa. 

Lila tem se sentido exausta e sobrecarregada pelas constantes demandas de seu tempo e energia. Apesar de seus esforços para acompanhar suas responsabilidades no trabalho e na família, ela se vê lutando para atender às expectativas no trabalho e em casa, experimentando estresse crônico, fadiga e sentimentos de incompetência. 

"Mamãe, eu tenho que levar presentes para minha professora para a comemoração do dia do professor amanhã". São 21h quando seu filho a lembra do que é necessário para o dia seguinte. Lila começa a chorar inconsolavelmente. 

Seu filho a abraça e esse gesto a faz chorar ainda mais. Ela não aguenta mais. Ela não está vivendo feliz, ela está sobrevivendo a cada dia e isso precisa mudar. A pressão implacável e a falta de tempo para descanso estão cobrando seu preço em sua saúde física e mental, levando a à exaustão. 

Vamos falar sobre isso:

Você já se sentiu como Lila? Por que esperamos até não aguentar mais para fazer uma mudança? Como podemos gerenciar melhor nosso estresse para evitar a exaustão? 

Vamos começar explicando a diferença entre Fatores de Estresse e Estresse em si: 

Fatores de Estresse são o que ativam a resposta ao estresse em nosso corpo. Eles podem ser qualquer coisa que vemos, ouvimos, cheiramos, tocamos, provamos ou imaginamos que possa nos prejudicar. Eles podem ser externos, como: trabalho, dinheiro, família, tempo, expectativas culturais, experiências de discriminação, etc. Ou fatores de estresse internos, como: autocrítica, imagem corporal, identidade, memórias, etc. De diferentes maneiras e em diferentes graus, eles podem ser interpretados pelo nosso corpo como ameaças potenciais. 

O estresse é a mudança neurológica e fisiológica que acontece em nosso corpo quando encontramos uma dessas ameaças. 

Vamos imaginar a seguinte cena: Você está andando na rua e de repente um leão aparece na sua frente. Quando seu cérebro percebe o leão, ele ativa uma "resposta de estresse" genérica, uma série de atividades neurológicas e hormonais inicia as mudanças fisiológicas para ajudá-lo a sobreviver: os músculos se preparam para correr, a pressão sanguínea aumenta, a sensibilidade à dor diminui, a sua atenção está em alerta, e assim por diante. Todo o seu corpo e mente mudam em resposta à ameaça (leão). Aqui vem o leão... o que você faz? Seu corpo é inundado com a resposta de estresse... você corre. 

Existem apenas dois resultados: o leão te pega ou você corre muito rápido e chega em casa, onde sua família está pronta para derrubar o leão e você sobrevive! Vamos ser mais positivos e escolher o último. Você sobreviveu! Você se sente seguro em sua casa cercado pela sua família. Você é abraçado pelos seus entes queridos e juntos respiram fundo e celebram a vitória na corrida ao se livrar do leão. O ciclo de resposta ao estresse está completo (seu corpo se sente seguro perto de sua amada família). 

Vamos dizer que em outro cenário, quando você está fugindo do leão, um guarda aparece e atira no leão, que cai morto. Você para e olha para o leão morto. Você se sente seguro? Não, porque seu corpo ainda está tentando entender que o fator de estresse (leão) não está mais lá. Vamos dizer que você finalmente chega em casa e conta para sua família o que aconteceu. Eles preparam um jantar gostoso para você, você está confortável no sofá enquanto sua mãe acaricia seus cabelos. Agora, o corpo se sente seguro. O ciclo de resposta ao estresse está completo. 

Agora, vamos supor que o "leão" seja um colega de trabalho, ou um membro desagradável da família. Ele está lá fazendo comentários inadequados e insultantes em reuniões ou encontros familiares. Você senta lá parecendo calma, mas seu corpo está respondendo a um fator de estresse. Fisiologicamente falando, você quer pegar o pescoço dele e torcer. Mas você apenas senta lá, parecendo "legal", porque é isso que é socialmente aceito. Você finalmente ganha coragem e pede ao supervisor dele para abordar os comentários "idiotas" que ele faz. Parabéns, você está perto de eliminar o fator de estresse! Mas, seu corpo ainda está procurando a confirmação de que você está seguro da ameaça potencial e pronto para relaxar. Neste caso, o ciclo de resposta ao estresse não foi completado. 

Agora, vamos trazer isso para mais perto de uma situação real: vamos dizer que o "leão" é um cliente abusivo. Ele fala mal de você, diz que "mesmo quando você faz o seu melhor, você é ruim!". Ele é agressivo e abusivo. Cada reunião é um pesadelo para você. Seu corpo está constantemente pronto para fugir desse leão. Nos dias da semana em que você tem reuniões com ele, você chega em casa fisicamente e emocionalmente exausta. O que você faz? 1: você segue sua rotina noturna (cozinhar, lição de casa das crianças, lavar roupa, etc); 2. Você tira 15 minutos para si mesmo para relaxar (faz uma rápida caminhada, ouve música, deita-se, toma um banho longo, etc). 

A opção 1 provavelmente é sua escolha padrão. Será mais fácil continuar, então você pode relaxar quando tudo estiver pronto. Mas, a longo prazo, você não será capaz de continuar mais. A opção 2 parece impossível no momento? Eu sei, para mim também (e ainda é em alguns dias), mas aos poucos você começará a notar os benefícios que esses 15 minutos para si mesmo lhe proporcionarão, e te garanto que as pessoas ao seu redor também irão usufruir disso. 

Por que é importante completar o ciclo? O ciclo é completado quando nosso corpo se sente seguro. O estresse prolongado e contínuo é degenerativo para nosso corpo, porque ele precisa permanecer constantemente em estado de alerta. As mudanças hormonais e neurológicas que acontecem em nosso corpo durante situações estressantes, se não forem tratadas, podem causar irritabilidade, depressão, insônia, ansiedade, pressão arterial elevada e até mesmo fazer você parecer mais velha. Eu chamei sua atenção agora? 

Temos uma tendência a não parar até nos esgotarmos completamente. Normalmente, vemos o relaxamento como uma perda de tempo. Mas a boa notícia é que descansar (que pode ser qualquer coisa que ajude você a fechar o ciclo de resposta ao estresse) não é uma perda de tempo, é um investimento em nosso bem-estar. 

Sou dessas que não pára até não conseguir mais e me esgotar. Também não acreditava em "me colocar em primeiro lugar". Eu até julguei algumas amigas que faziam isso no passado (eu sei, vergonha para mim. Que feio!). Foi difícil para mim tirar o pé do acelerador e focar em mim primeiro. Realmente difícil. Mas, uma vez que meu corpo desistiu de mim (descobri que tenho uma doença autoimune que se manifestou após uma fase muito estressante em minha vida), eu fui "forçada" a parar e cuidar de mim mesma. 

Eu me coloquei em primeiro lugar e aprendi que há benefícios duplos em fazer isso: eu sou mais feliz e os que estão ao meu redor também são mais felizes. Por quê? Porque uma vez que eu encho o meu tanque de energia com atividades que me fazem feliz (caminhar na natureza, ler, fazer exercícios, me conectar com pessoas, abraçar meus filhos, passar tempo com meu marido, conversar com meus pais), eu encho minha "bolha de amor". Então, é quando posso começar a soprar bolhas de amor para os que estão ao meu redor. Só então consigo distribuir mais gentileza, paciência e atenção para o mundo fora de mim (sem me prejudicar). 

Como completamos o ciclo de resposta ao estresse? A atividade física é o que diz ao seu cérebro que você sobreviveu com sucesso à ameaça e como seu corpo é um lugar seguro para viver. A atividade física é a estratégia mais eficiente para completar o ciclo de resposta ao estresse. “Lu, mas eu odeio fazer exercícios!!!” A atividade física não se resume à academia, é qualquer coisa que movimente seu corpo. Você gosta de dançar? Brincar de esconde-esconde com seus filhos? Caminhar até a padaria? Cantar e performar sua música de karaokê favorita? Além disso, há outras maneiras de completar o ciclo, como respirar profundamente, meditar, interações sociais positivas, afetos e uma que eu mais amo, a gargalhada. 

Uma amiga minha me perguntou quando eu escreveria um post sobre gerenciamento de estresse, e acredito que este é um deles. Você gerencia seu estresse cuidando de si mesma, fazendo as coisas que te fazem feliz. Acredite em mim, é difícil começar. Muito difícil. Porque fomos criadas para sermos "Doadoras". 

Há essa suposição de que as mulheres devem dar tudo e sempre, cada gota de energia, para o cuidado dos outros. Emily e Amelia Nagoski, as irmãs que escreveram o livro de sucesso "Burnout", dizem que "auto-cuidado" é, de fato, egoísta, porque usa recursos pessoais para promover o bem-estar do doador, em vez do de outra pessoa. Isso realmente tocou meu coração, porque nesse contexto, eu quero ser egoísta. Eu quero promover meu próprio bem-estar, para que eu possa ser saudável e feliz para estar perto dos que eu amo e do trabalho que faço. E você? 

Como seria no mundo ideal: 
  • Quando o ciclo de resposta ao estresse é completado com mais frequência no seu dia a dia.
  • Quando sorrimos (e rimos) com mais frequência e choramos quando necessário (para liberar o estresse).
  • Quando reconhecemos quando é hora de parar antes que nosso corpo nos diga.
  • Quando sentir vontade de dançar e cantar nossa música favorita, faça-o! 
  • Quando movemos nosso corpo, pode ser um exercício pesado para quem gosta, mas uma caminhada ao redor do quarteirão nos dará ar fresco e pensamentos frescos 
Para pensar e refletir: 

Reflita sobre a frase de Toni Morrison - "Você é a sua melhor coisa". Não há fatores de estresse em nossas vidas que valham a pena sacrificar nossa saúde e felicidade. 

Bora dar o primeiro passo? 
  • Encontre tempo em seu dia para fazer pelo menos uma coisa para VOCÊ
  • Estabeleça limites e fronteiras. Você pode não ser capaz de mudar o ambiente em que está, mas expresse o que funciona para você e o que não funciona 
  • Encontre maneiras de se desconectar do trabalho (ou quaisquer que sejam seus fatores de estresse no momento) - aumente a frequência das coisas que você ama fazer (esporte, cozinhar, hobbies, leitura, etc) 
  • Se você não tem tempo para ligar para um bom amigo, envie uma mensagem de áudio. Esta é a melhor ferramenta que encontrei para manter contato com meus amigos, que como eu, estão sempre ocupados. Chamamos nossas mensagens de áudio de "podcasts", porque são looooongas. Mas assim, podemos ouvir e responder quando tivermos tempo. E não colocamos pressão um sobre o outro se respondermos imediatamente ou 5 dias depois (o que acontece com bastante frequência).  
Vamos estudar mais: 
  • Psicologia al desnudo - a Psicóloga Argentina Marina Mammoliti fala sobre o estresse e dá dicas simples para  nos ajudar a fechar o ciclo do estresse

  • Burnout - Emily and Amelia Nagoski - esse livro nos dá ferramentas para entender e lidar com o estresse

  • Atlas of the Heart - Brene Brown faz um trabalho incrível mapeando todos os diferentes tipos de emoções, o que nos ajuda a criar uma linguagem sobre o que estamos sentindo, e isso torna mais fácil lidar com esses sentimentos e emoções.

  • The Mind Explained - How to focus - Série na Netflix - mostra a dificuldade que temos para nos concentrar (em nós mesmos e nas coisas que gostamos de fazer) quando o mundo ao nosso redor é cheio de distrações.




Comments

  1. Estou amando os posts e os desenhos haha 🫶🏼

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  2. Querida!! Amei suas reflexões tão precisas! Na astrologia, quando vc não coloca luz no desconforto o Universo se encarrega de te mostrar... Nem sempre ele é bonzinho rs. PARABÉNS! ❤️

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  3. Tenho certeza de que sairá um livro dos posts, pois existe um linearidade perfeitamente encaixada: síndrome do impostor, depois vem esta de ter o teu tempo. Porém por experiência própria e particularmente eu precisei de apoio dentro de casa e dos veios para entender que o momento que escolhi para mim (fazer exercícios) eu não estaria sendo impostor para os meus. Ao contrário, quanto mais faço por mim, mais faço por eles… top demais lal…

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  4. Parabéns! Sucesso

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