A dança da comunicação não verbal

Senta que lá vem a história: 

Lila está tentando silenciar o zumbido interno que a instiga a gritar seus pensamentos para a equipe. É o segundo dia do nosso evento de quatro dias com parceiros externos, marcando o primeiro encontro internacional com parceiros do México, Brasil, Japão, Holanda e EUA na ensolarada cidade de San Diego, Califórnia. 

O crescimento internacional da empresa foi mais lento do que o esperado e esta semana foi uma tentativa de unir todos (equipes internas e externas) para ter discussões estratégicas. Lila estava genuinamente animada para ouvir suas ideias e desafios, antecipando um esforço colaborativo para definir a estratégia para um crescimento constante e rápido. Após concluir a última sessão, ela solicitou à equipe interna que ficasse um pouco mais, pois precisava discutir algumas questões. Sua intenção era fornecer feedback sobre o comportamento deles durante as sessões. 

Antes deste evento, eles tiveram várias reuniões para delinear as expectativas, garantindo que todos estivessem alinhados. Apesar das discussões anteriores destacando a importância de permitir que os parceiros externos expressassem suas ideias, a equipe interna, conhecida por ser dominadora, falhou em dar a eles o espaço necessário. A sessão do primeiro dia foi caótica, com membros da equipe falando por cima dos parceiros, interrompendo e sutilmente ignorando suas ideias. Embora não fossem agressivas abertamente, essas ações tiveram impactos distintos: os parceiros japoneses se retiraram, os parceiros latinos concordaram diplomaticamente e os colegas holandeses ficaram visivelmente chateados com as interrupções descaradas. 

A frustração de Lila atingiu o ápice e ela não conseguia se livrar da profunda decepção em ver o desempenho de seus colegas. Apesar de sua intenção inicial de adiar o feedback devido às intensas emoções, suas ações prevaleceram sobre seus pensamentos. 

"Obrigada a todos pelas discussões esclarecedoras hoje. Isso marcou um passo inicial significativo na definição de nossa estratégia. Para minha equipe interna, vocês poderiam ficar por um breve momento? Tenham uma ótima noite, pessoal!" ela diz calmamente. 

Enquanto as pessoas pegam suas coisas e saem, ela faz um esforço consciente para recuperar a compostura. A magnitude de sua decepção alimenta emoções intensas, instigando-a a abordar a situação. Seu coração dispara, a respiração fica superficial e a boca fica seca. Internamente, ela conversa consigo mesma: “Deixe-os sair; lide com isso amanhã de manhã.” No entanto, a luta interna persiste - o anjo sussurra: “Você está exausta; se hidrate, descanse. Amanhã é um novo dia.” Simultaneamente, o diabo afirma: “Não se acalme; sua raiva precisa de combustível. Você sabe exatamente o que dizer, e isso precisa ser dito agora.” 

Algumas respirações... Sua equipe - composta por 8 indivíduos (6 homens brancos americanos, 1 mulher americana e 1 homem latino) - aguarda suas palavras. A série exaustiva de apresentações e discussões estratégicas do dia pesou muito em todos. 

Reunidos em círculo, ela os aborda severamente: "Quantas vezes devo enfatizar que este evento é nossa chance de entender os desafios dos nossos parceiros? Queremos a participação ativa deles, envolvimento nas discussões. Mas como eles podem se envolver quando vocês não os deixam?" É uma pergunta retórica; ela não lhes concede tempo para responder. "Suas opiniões são válidas, mas não agora. Seu papel era facilitar, não tomar o controle. Tivemos várias reuniões delineando como deveríamos interagir e aproveitar ao máximo esses dias juntos. Vocês praticamente entregaram a eles soluções para problemas que assumiram que eles tinham, sem realmente ouvir suas preocupações. Vocês não deram espaço para que eles falassem. Quão investidos vocês acham que eles estão em uma estratégia que vocês definiram sem a participação deles? Eles não fizeram parte da solução; vocês simplesmente lhes disseram o que fazer. Quão motivados eles podem ser quando suas vozes são ignoradas?" 

No calor do momento, Lila estava tão envolvida nas emoções que levou um tempo para registrar a reação deles. Eles ficaram lá em completo silêncio, seus rostos refletindo perplexidade. Ela percebeu que, embora suas palavras pudessem conter alguma verdade, a maneira como as entregou havia despertado algo dentro da equipe, algo que ela não tinha testemunhado antes. Provavelmente era melhor deixar isso de lado por enquanto. Enquanto todos se dispersavam, concordaram em retomar a conversa no dia seguinte. 

Enquanto Lila arrumava as coisas para sair, uma de suas colegas se aproximou dela: “Você está bem? Você estava gritando, seus olhos saltando e seu rosto está vermelho como sua blusa” - ela comentou de uma maneira que Lila sentiu-se julgada e não recebeu nenhum apoio dela. Ela estava sentada na mesma sala quando a conversa aconteceu. 

 “Como você acha que estou me saindo?” Lila respondeu com pouca paciência para essa conversa. Continuando, ela acrescentou: "Eles dominaram completamente as conversas hoje, e não chegamos perto de alcançar o que precisávamos." 

 Os seis meses de gravidez estavam pesando muito em Lila, instigando a necessidade de descanso. Pés inchados e o constante movimento do bebê os deixaram exaustos e desejando um banho quente e uma cama. O dia tinha sido estressante e exaustivo. 

"Tenho que ir," ela rosnou, dirigindo-se para a porta. Enquanto Lila saía, sua colega comentou:

"Seus hormônios devem estar uma bagunça porque sua atitude não foi boa." 

Sem olhar para trás, praticamente Lila correu para o quarto, buscando conforto em seu choro. 

Vamos falar sobre isso: 

O que chama sua atenção sobre essa situação? Existem dois pontos principais: as habilidades de comunicação de Lila e um toque de falta de sororidade por parte de sua colega feminina. 

Comunicação competente A comunicação é uma habilidade complexa para se destacar. Existem as palavras que dizemos e também os aspectos não-verbais da comunicação, como gestos, tom de voz, expressões faciais, postura e contato visual. Quer você perceba ou não, você transmite muitas mensagens todos os dias sem dizer nada. No caso da Lila, ela tinha alguns feedbacks válidos para fornecer à equipe. O "O QUÊ" ela precisava dizer era importante e necessário, mas o "COMO" ela disse foi inadequado. Ela falhou em prestar atenção aos sinais não-verbais. Este é um erro muito comum quando o clima está tenso e as emoções estão à flor da pele. 

Vamos destacar as oportunidades de Lila: 

• Voz em volume alto e tom sério (“abordou-os com firmeza”, “você estava gritando”) 
• Sem pausa para a equipe responder (“perguntas retóricas”) 
• Expressões faciais e gestos mostraram frustração e raiva (“olhos saltando”, “rosto vermelho”) 

As habilidades de comunicação e linguagem corporal variam de acordo com as culturas. Embora Lila tenha tentado ser atenciosa com as diferenças culturais durante as sessões, garantindo que sua equipe não dominasse os visitantes internacionais, ela não foi capaz de adaptar sua própria comunicação à cultura dos EUA na qual estava imersa, mantendo a calma e sendo objetiva sobre o feedback que tinha para a equipe. Seu comportamento e atitude foram vistos por sua equipe dos EUA como excessivamente emocionais e agressivos. 

Todos podem se beneficiar de uma melhor compreensão das comunicações não-verbais. 

Em sua próxima conversa que se torna acalorada, tente prestar atenção em seu próprio tom de voz e nas expressões faciais, postura e gestos do outro. Talvez ser mais intencional sobre a busca por esses sinais não-verbais possa direcioná-lo para uma discussão mais proveitosa e um melhor resultado. 

Sororidade

A sororidade no ambiente de trabalho se manifesta quando as colegas de trabalho têm relacionamentos de apoio e colaboração. Essas conexões podem promover um ambiente de trabalho positivo e capacitador. A colega de Lila deixou a desejar ao não oferecer suporte. Como alguém que havia observado como o dia se desenrolou, ela poderia ter orientado Lila sobre como abordar a equipe. Ou simplesmente ser uma fonte de compreensão e empatia. 

Apontar a gravidez de Lila de forma negativa ("hormônios por todos os lados") foi grosseiro e criou um espaço inseguro não apenas para Lila, mas para qualquer outra mulher que pudesse ter ouvido o comentário. 

Você está pronta para ajudar, orientar e apoiar as colegas de trabalho em seu ambiente de trabalho? Você vê suas colegas sendo solidárias com você durante momentos desafiadores? E na sua vida pessoal? Você está lá para seus entes queridos? 

Como seria o mundo ideal: 

Nós nos tornamos comunicadores eficazes quando somos intencionais em prestar atenção em todos os aspectos de nossas habilidades de comunicação (verbais e não-verbais). É importante o que você diz, e ainda mais importante como você diz. Existem diferentes expectativas sobre como a comunicação eficaz se parece em diferentes culturas (mais detalhes virão em futuros posts). 

A sororidade é essencial para que as mulheres se sintam seguras, apoiadas e capacitadas em todos os aspectos de nossas vidas, incluindo o ambiente de trabalho. 

Para pensar e refletir: 

• Pense em uma situação em que você falhou em regular os aspectos da sua comunicação não verbal. Qual foi o resultado? 
• Escolha um aspecto para melhorar na sua comunicação para você se tornar um comunicador mais competente.
• Seu tom de voz e escolha de palavras têm o poder de determinar se você está sendo humilde ou arrogante, simpático ou sarcástico, cuidadoso ou irônico. Você consegue pensar em uma situação em que pretendia dizer algo e as pessoas interpretaram erroneamente o que você disse? Se sim, tente lembrar “COMO” você disse isso. 

Bora dar o primeiro passo: 

Na sua próxima conversa, comprometa-se a ouvir ativamente, praticar empatia e estar ciente dos seus próprios sinais não verbais para melhorar a comunicação e construir relacionamentos mais fortes. 

Para estudar mais:

Magic Word - esse livro nos ensina a usar palavras chaves para nos comunicarmos melhor e conseguir o que queremos

Ted Talks - esse livro escrito pelo CEO do Ted Talks nos dá ensinamentos essenciais para sermos comunicadores competentes

Mulheres não são chatas, mulheres estão exaustas - esse livro parece que você está conversando com uma amiga, com situações que você consegue se ver nelas